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Qual a diferença entre marcação a mercado e marcação na curva?

Um guia completo para entender as diferentes metodologias de avaliação de ativos no mercado financeiro

Entenda como a escolha entre marcação a mercado e marcação na curva impacta seus investimentos e saiba qual método é mais adequado para cada tipo de ativo | Crédito: Freepik
Entenda como a escolha entre marcação a mercado e marcação na curva impacta seus investimentos e saiba qual método é mais adequado para cada tipo de ativo | Crédito: Freepik

Imagine ter que decidir entre dois caminhos para avaliar um investimento. Por um lado, você pode olhar o preço atual no mercado, como quem consulta o valor de uma ação na bolsa. Por outro, pode calcular seu valor futuro através de modelos matemáticos, como um arquiteto que projeta uma construção.


Essas são as duas principais metodologias que movimentam o mercado financeiro: a marcação a mercado e a marcação na curva. Embora ambas busquem determinar o valor justo de um ativo, suas abordagens e aplicações são tão diferentes quanto fascinantes. Para entender a diferença entre marcação a mercado e marcação na curva, é preciso ter cada um dos conceitos explicados.


O que é avaliação de ativos?

Acima das metodologias, está o objetivo principal delas, a avaliação de ativos. Esse é o processo de determinar o valor de um bem, seja físico (como imóveis) ou financeiro (como ações e títulos). Este processo fundamenta decisões estratégicas, desde investimentos até a gestão de riscos.


Ele é importante para evitar distorções no mercado, já que um ativo mal precificado pode gerar bolhas especulativas ou oportunidades perdidas. Por isso, métodos transparentes e confiáveis de avaliação são essenciais para manter a integridade das transações.


Investidores dependem de avaliações precisas para alocar recursos com segurança. Instituições financeiras, como bancos e fundos, utilizam esses dados para calcular riscos, cumprir regulamentações e garantir solidez em seus balanços. Em essência, a avaliação de ativos sustenta a confiança no sistema financeiro.


O que é marcação a mercado?

A marcação a mercado é o método mais direto de avaliação. Ela reflete o preço pelo qual um ativo pode ser negociado no momento da análise.


O método se baseia nas transações recentes do mercado. Por exemplo, se uma ação é negociada a R$ 100 hoje, esse será seu valor marcado a mercado. A lógica é direta: o preço atual representa o melhor indicador do valor real do ativo.


Em um fundo de investimento em ações, o valor das cotas é atualizado diariamente conforme o preço de fechamento das ações na bolsa. De modo similar, commodities como o petróleo têm seu valor ajustado diariamente conforme a cotação internacional.


Vantagens e desvantagens da marcação a mercado

Antes de escolher o método, é importante colocar na balança as vantagens e desvantagens da marcação a mercado.


A primeira delas, e sua principal vantagem, é a transparência, já que ela oferece preços públicos e verificáveis para os investidores.


No entanto, em mercados mais voláteis, como o de criptomoedas, este método pode resultar em flutuações abruptas que geram incerteza, especialmente para investidores focados no longo prazo.


Outra vantagem importante é que este método é particularmente eficaz para ativos líquidos, como ações, títulos públicos e moedas, que possuem mercados ativos e preços atualizados constantemente.


Em contrapartida, em períodos de instabilidade econômica, uma desvantagem notável é que a marcação a mercado pode intensificar as perdas devido às quedas abruptas nos preços. Em situações extremas, os reguladores podem até mesmo autorizar temporariamente o uso da marcação a curva para evitar pânico no mercado.


O que é marcação na curva?

Quando não há um mercado líquido para referência, utiliza-se a marcação na curva, método que emprega modelos matemáticos e indicadores indiretos para estimar o valor de um ativo.


A marcação na curva utiliza parâmetros como taxas de juros, índices setoriais e preços de ativos semelhantes. Por exemplo, um título de dívida privada pode ser avaliado com base na curva de juros de títulos públicos, ajustada por riscos específicos.


Empresas de energia utilizam este método para avaliar contratos de longo prazo, como acordos de fornecimento de gás natural. Como esses contratos não são negociados diariamente, seu valor é calculado com base em projeções de demanda e custos futuros.


Além disso, ele é comum para instrumentos customizados, como derivativos over-the-counter (OTC), projetos de infraestrutura e ativos sem negociação frequente.


Vantagens e desvantagens da marcação na curva

A principal vantagem da marcação na curva é sua capacidade de avaliar ativos complexos que não possuem negociação frequente no mercado, como títulos privados e contratos personalizados.


Além disso, este método oferece maior estabilidade nas avaliações ao longo do tempo, reduzindo a volatilidade artificial que poderia surgir em momentos de estresse do mercado.


Por outro lado, uma desvantagem significativa é sua dependência de premissas e modelos matemáticos que podem não refletir perfeitamente a realidade do mercado. Essas premissas, se mal calibradas, podem levar a distorções importantes na avaliação.


Outro ponto negativo é que a marcação na curva pode mascarar problemas de precificação por períodos prolongados, já que não incorpora imediatamente as mudanças nas condições de mercado, como acontece com a marcação a mercado.


Diferença entre marcação a mercado e marcação na curva

Com os conceitos bem estabelecidos, é possível entender as diferenças entre marcação a mercado e marcação a curva.


Base de cálculo

A marcação a mercado utiliza dados concretos e objetivos baseados em transações reais que acontecem no mercado. Isso significa que o valor do ativo é determinado diretamente pelo que os compradores estão dispostos a pagar e os vendedores a aceitar em um determinado momento.


Por outro lado, a marcação a curva se baseia em projeções matemáticas e modelos teóricos para estimar o valor do ativo. Este método é mais subjetivo, pois depende das premissas e variáveis escolhidas para construir o modelo de avaliação, podendo resultar em diferentes valores dependendo da metodologia aplicada.


Liquidez do ativo

A liquidez do ativo é um fator determinante na escolha do método de avaliação. Ativos com alta liquidez, como ações listadas em bolsa, são naturalmente avaliados através da marcação a mercado, pois existe um fluxo constante de negociações que estabelece seu valor de forma transparente.


Em contrapartida, ativos com baixa liquidez ou características específicas, como empréstimos bancários e investimentos em infraestrutura, necessitam da marcação na curva. Este método permite uma avaliação mais adequada quando não há negociações frequentes ou quando o ativo possui características únicas que dificultam comparações diretas.


Estabilidade e precisão

A escolha entre os métodos também impacta diretamente a volatilidade das avaliações. A marcação a mercado proporciona uma visão precisa e atualizada do valor do ativo, refletindo instantaneamente as mudanças nas condições de mercado e o sentimento dos investidores.


Já a marcação na curva oferece maior estabilidade nas avaliações, sendo menos suscetível a oscilações de curto prazo. No entanto, este método requer constante validação das premissas utilizadas, pois erros nos modelos podem levar a distorções significativas na precificação dos ativos.


Contextos de aplicação

Os mercados financeiros mais desenvolvidos e organizados, como as bolsas de valores, utilizam predominantemente a marcação a mercado devido à sua transparência e objetividade. Este método é fundamental para garantir a confiança dos investidores e a eficiência do mercado.


Por outro lado, segmentos mais específicos como private equity, mercado de crédito privado e projetos estruturados dependem da marcação na curva. Esta metodologia permite avaliar adequadamente ativos complexos e customizados, considerando suas características particulares e horizontes de investimento mais longos.


Quais ativos usar em cada método?

Seguindo essa linha raciocínio, a escolha entre os métodos de marcação depende principalmente da natureza do ativo em questão.


Na prática, diferentes tipos de investimentos requerem métodos específicos de marcação. Por exemplo, ativos com alta liquidez e negociação frequente no mercado, como ações listadas na B3 (PETR4, VALE3), ETFs (BOVA11, IVVB11), títulos públicos negociados no Tesouro Direto, fundos de investimento com cotação diária e BDRs de empresas internacionais são ideais para a marcação a mercado.


Por outro lado, instrumentos como FIPs (Fundos de Investimento em Participações), debêntures com baixa liquidez, CRIs e CRAs mantidos até o vencimento, fundos de infraestrutura fechados e ativos imobiliários em fundos fechados são mais adequados para a marcação na curva, devido à sua natureza menos líquida e horizonte de investimento mais longo.


Impactos nos investimentos e na gestão de riscos

A escolha do método de marcação tem impactos na tomada de decisão dos investidores e gestores. Enquanto a marcação a mercado oferece dados em tempo real que permitem decisões ágeis, ela pode levar a uma visão excessivamente focada no curto prazo.


Por outro lado, a marcação na curva favorece um planejamento mais estratégico e de longo prazo, embora exija constante vigilância sobre as premissas utilizadas nos modelos de avaliação.


A crise financeira de 2008 serve como um exemplo histórico dos riscos associados à má utilização desses métodos. O uso excessivo de modelos teóricos complexos na avaliação de títulos hipotecários, combinado com premissas otimistas e descoladas da realidade, resultou em uma avaliação distorcida desses ativos.


Esta situação culminou em perdas bilionárias quando as condições reais do mercado finalmente vieram à tona, demonstrando a importância de manter um equilíbrio entre os métodos de marcação e de sempre considerar as condições efetivas do mercado, independentemente do método escolhido.


Como equilibrar os dois métodos?

Para equilibrar efetivamente os dois métodos de marcação, as instituições financeiras e gestoras de investimentos devem adotar uma abordagem híbrida. Isso significa utilizar a marcação a mercado como referência principal quando houver liquidez suficiente, mas manter a capacidade de transitar para a marcação na curva em situações específicas, como períodos de alta volatilidade ou para ativos menos líquidos.


A mitigação de riscos pode ser alcançada através da implementação de sistemas robustos de monitoramento que comparem constantemente os resultados dos dois métodos.


Quando houver divergências significativas entre as avaliações, isso pode servir como um alerta precoce para possíveis distorções de preços ou problemas nos modelos utilizados. Além disso, é fundamental manter uma documentação detalhada das premissas utilizadas na marcação na curva e revisá-las periodicamente.


Tendências e futuro da avaliação de ativos

O avanço tecnológico tem revolucionado a forma como se avaliam ativos financeiros. Com a crescente adoção de inteligência artificial e análise de big data, os processos de marcação tornaram-se mais sofisticados e precisos, permitindo uma avaliação mais robusta para as duas metodologias.


No contexto brasileiro, o mercado enfrenta desafios únicos por conta das características específicas dele. A liquidez limitada em diversos setores continua sendo um obstáculo para a marcação a mercado, fazendo com que os modelos teóricos mantenham sua relevância fundamental na avaliação de ativos. Esta realidade ressalta a importância de manter uma abordagem equilibrada entre os dois métodos.


Por fim, o surgimento das criptomoedas trouxe novos paradigmas para a avaliação de ativos. Embora apresentem alta liquidez em suas negociações, a ausência de lastro físico e a volatilidade característica desse mercado demandam uma metodologia híbrida de avaliação. Esta evolução demonstra como o campo da avaliação de ativos continua se adaptando às inovações financeiras, sempre buscando o equilíbrio entre precisão e praticidade.


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