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CPC 27: gestão de ativos imobilizados e implicações na avaliação patrimonial

Atualizado: 7 de out.

Norma contábil regulamenta reconhecimento, mensuração e depreciação de bens tangíveis e influencia a representação do valor econômico nas demonstrações financeiras

Pessoas discutindo em uma mesa
Entenda como o CPC 27 regula a contabilização de ativos imobilizados e seu impacto na representação do valor econômico das empresas | Crédito: Unsplash

Já se perguntou como as empresas gerenciam seus bens de longa duração? Imagine uma fábrica adquirindo uma nova linha de produção multimilionária. Como essa aquisição impactará os relatórios financeiros nos próximos anos? É aí que entra o CPC 27.


O CPC 27 é um pronunciamento técnico que estabelece critérios para a contabilização de ativos imobilizados, ou seja, bens tangíveis que a empresa utiliza na produção de mercadorias ou serviços, ou para finalidades administrativas. Esses ativos têm uma vida útil superior a um exercício contábil e devem ser registrados de forma que representem o valor econômico real que geram para a entidade.


Mas o que exatamente se enquadra como ativo imobilizado? Pense nos pilares físicos de uma empresa: terrenos, prédios, máquinas, equipamentos, veículos, móveis e utensílios. Todos esses itens compartilham características essenciais: durabilidade e uso contínuo nas atividades empresariais, sejam elas produtivas, administrativas ou de prestação de serviços.

 

O CPC 27 assegura que esses ativos sejam corretamente contabilizados, refletindo seu real valor econômico e impacto nos resultados da empresa ao longo do tempo.


Neste artigo, abordaremos os seguintes tópicos:

Após compreender o conceito do CPC 27, é fundamental saber identificar corretamente um ativo imobilizado.


Quando reconhecer um ativo?

O reconhecimento de um ativo imobilizado é baseado em dois critérios fundamentais: a expectativa de benefícios econômicos futuros e a confiabilidade na mensuração do custo. 

O primeiro critério estabelece que deve haver uma expectativa razoável de que o ativo contribuirá, direta ou indiretamente, para o aumento do fluxo de caixa da entidade. Isso significa que o ativo deve gerar benefícios econômicos por mais de um período contábil para ser classificado como imobilizado.


O segundo critério exige que o custo do ativo possa ser mensurado com confiabilidade, assegurando uma representação fiel do valor econômico do bem nos registros contábeis da empresa. Esta mensuração confiável é crucial para garantir a precisão e a integridade das demonstrações financeiras. É importante notar que nem todos os gastos relacionados a um ativo imobilizado são capitalizados.


Imagine uma empresa que adquire um maquinário de produção. Se esse equipamento atender aos dois critérios mencionados, ele deve ser registrado como ativo imobilizado. No entanto, os custos de manutenção e reparo desse maquinário não são capitalizados, sendo reconhecidos como despesas operacionais. Esta distinção é fundamental para a correta aplicação dos princípios contábeis e para a representação adequada da situação patrimonial da empresa.


Mensuração inicial e subsequentemente

O CPC 27 determina diretrizes específicas para a mensuração desses ativos, ou seja, como atribuir um valor monetário a esses bens. Inicialmente, o ativo imobilizado deve ser mensurado pelo seu custo de aquisição. Este engloba não apenas o preço de compra, mas também os impostos não recuperáveis e todos os custos diretamente atribuíveis para colocá-lo em condições operacionais para o uso pretendido.


Após o reconhecimento inicial, o CPC 27 prevê duas opções para a mensuração subsequente dos ativos imobilizados: o modelo de custo e o modelo de reavaliação.

No modelo de custo, o ativo é mantido em registro pelo seu valor de aquisição, deduzindo-se a depreciação acumulada e quaisquer perdas por desvalorização que possam ter ocorrido ao longo do tempo. Este método é bastante utilizado devido à sua simplicidade e consistência.


Por outro lado, o modelo de reavaliação permite que o ativo seja ajustado periodicamente ao seu valor justo, subtraindo-se a depreciação acumulada e as perdas por redução ao valor recuperável subsequentes à reavaliação.


Vale ressaltar que, embora o CPC 27 mencione este modelo, a legislação brasileira atualmente não permite a reavaliação de ativos imobilizados, exceto em situações muito específicas, como no caso de propriedades para investimento sob o escopo do CPC 28.


A escolha entre esses modelos de mensuração tem implicações significativas na representação da posição financeira da entidade. O primeiro tende a apresentar uma visão mais conservadora, enquanto osegundo, quando aplicável, pode refletir de forma mais precisa o valor econômico atual dos ativos.


Depreciação e valor residual

Falando agora sobre depreciação e valor residual, o CPC 27 estabelece uma relação fundamental entre eles. A depreciação representa o desgaste ou a perda de valor do ativo ao longo do tempo, enquanto o valor residual é a estimativa do montante que a entidade obteria com a venda do ativo ao final de sua vida útil.


De acordo com o CPC 27, o valor depreciável de um ativo é calculado subtraindo-se seu valor residual do custo inicial. Essa abordagem assegura que apenas o valor efetivamente consumido durante a vida útil do ativo seja reconhecido como despesa de depreciação, refletindo com maior precisão o padrão de consumo dos benefícios econômicos do ativo.


Depreciação

O conceito representa o valor depreciável de um ativo ao longo de sua vida útil. Este processo reflete o desgaste ou obsolescência do bem, distribuindo seu custo de forma ordenada nos períodos contábeis em que o ativo gera benefícios econômicos para a entidade.


O CPC 27, norma que regula o tratamento contábil do ativo imobilizado, apresenta três métodos principais para o cálculo da depreciação:


  • Método Linear, o mais simples e amplamente utilizado, distribui o valor depreciável de forma igual durante toda a vida útil do ativo.

  • Método de Saldos Decrescentes, que aplica uma taxa maior de depreciação nos primeiros anos de uso do ativo, refletindo um desgaste mais acentuado nesse período.

  • Método das Unidades Produzidas, que se baseia na produção ou uso efetivo do ativo, sendo particularmente útil para máquinas e equipamentos industriais.


A escolha do método de depreciação deve ser feita de acordo com o padrão esperado de consumo dos benefícios econômicos futuros incorporados no ativo. Esta decisão é importante, já que impacta diretamente na representação da posição financeira e do desempenho da entidade ao longo do tempo.


Valor residual

O valor residual representa a estimativa do montante que a empresa espera obter com a venda de um ativo imobilizado ao final de sua vida útil, após deduzir as despesas estimadas de venda. Sua importância se dá na influência em relação ao cálculo da depreciação. Ao subtrair o valor residual do custo inicial do ativo, obtém-se o valor depreciável, que será distribuído ao longo da vida útil do bem.


A determinação precisa do valor residual é crucial para uma representação fiel da situação patrimonial da empresa. Fatores como condições de mercado, obsolescência tecnológica e políticas de renovação de ativos devem ser considerados nessa estimativa.


É importante ressaltar que o valor residual deve ser revisado pelo menos ao final de cada exercício e, se as expectativas diferem das estimativas anteriores, a mudança deve ser contabilizada como mudança de estimativa contábil.


Reavaliação de ativos

O processo de reavaliação é feito para ajustar o ativo ao valor justo. O CPC 27 descreve que qualquer ganho com a reavaliação é registrado no patrimônio líquido, em uma conta de reserva de reavaliação. No caso de redução de valor, a perda pode impactar o resultado do exercício.


A reavaliação de ativos imobilizados, embora geralmente não permitida pela legislação brasileira, possui exceções notáveis em duas situações específicas. Primeiramente, no caso de Propriedades para Investimento, reguladas pelo CPC 28, é possível mensurar pelo valor justo os imóveis mantidos para fins de aluguel ou valorização. Esta abordagem permite uma representação mais precisa do valor econômico desses ativos no balanço patrimonial das empresas.


A segunda exceção aplica-se ao contexto dos Fundos de Investimento. Neste cenário particular, onde os benefícios econômicos são gerados com base no valor das cotas, a reavaliação de propriedades ocupadas pelo proprietário é permitida. Esta flexibilidade na norma contábil visa refletir de forma mais fidedigna a realidade econômica desses fundos, cujo desempenho está intrinsecamente ligado ao valor de mercado dos ativos que compõem seu portfólio.


Para esses casos, foram pensados os itens de 31 a 42 do CPC 27. Eles permitem que, após o reconhecimento inicial, os ativos sejam ajustados ao valor justo, caso esse valor possa ser mensurado de forma confiável:


Item 31: reavaliação e regularidade

Um ativo imobilizado cujo valor justo possa ser mensurado de forma confiável pode ser reavaliado. A reavaliação deve ocorrer com frequência suficiente para evitar que o valor contábil se desvie significativamente do valor justo.


Item 32: determinação do valor justo

O valor justo de terrenos e edifícios é normalmente baseado em avaliações de mercado feitas por profissionais qualificados. Para equipamentos e instalações, o valor justo também pode ser estimado com base em avaliações de mercado.


Item 33: ausência de evidências de mercado

Quando não houver evidências de mercado, o valor justo pode ser estimado usando métodos como o custo de reposição depreciado ou o fluxo de caixa futuro.


Item 34: frequência de reavaliações

A reavaliação deve ocorrer sempre que o valor justo do ativo sofrer mudanças materiais. Para ativos que sofrem grandes variações de valor, como terrenos, a reavaliação pode ser anual. Já para outros ativos, ela pode ser feita a cada três ou cinco anos.


Item 35: ajustes na depreciação após a reavaliação

Quando um ativo é reavaliado, a depreciação acumulada deve ser ajustada de forma proporcional à variação do valor contábil bruto do ativo ou eliminada contra o valor bruto, ajustando-se o valor líquido.


Item 36: reavaliação de toda a classe de ativos

Quando um ativo é reavaliado, toda a classe de ativos à qual ele pertence deve ser reavaliada simultaneamente. Isso evita que ativos da mesma classe sejam mensurados de formas diferentes.


Item 37: classes de ativos imobilizados

As classes de ativos imobilizados abrangem uma ampla gama de categorias, refletindo a diversidade de bens que uma empresa pode possuir para suas operações. Estas categorias são essenciais para a organização e controle do patrimônio, permitindo uma gestão mais eficiente e uma representação contábil mais precisa.


Entre as principais classes de ativos imobilizados, podemos destacar: terrenos, que representam a propriedade fundiária da empresa; edifícios, englobando as estruturas físicas utilizadas; máquinas, essenciais para os processos produtivos; veículos, utilizados para transporte e logística; e móveis e utensílios, que compõem a infraestrutura interna.


Item 38: reavaliação rotativa

A reavaliação pode ser realizada de forma rotativa, contanto que todas as reavaliações dentro de uma classe sejam concluídas em um período razoável.


Item 39: aumento no valor contábil

Se a reavaliação resultar em aumento do valor do ativo, esse aumento é registrado diretamente no patrimônio líquido, exceto quando reverte uma depreciação anteriormente registrada no resultado.


Item 40: diminuição no valor contábil

Se a reavaliação resultar em diminuição do valor do ativo, essa diminuição deve ser registrada no resultado do exercício, exceto se houver uma reserva de reavaliação, que será usada para compensar a perda.


Item 41: transferência de reserva de reavaliação

A reserva de reavaliação só pode ser transferida para lucros acumulados quando o ativo for baixado ou alienado. A transferência também pode ser feita de forma gradual, à medida que o ativo for depreciado.


Item 42: efeitos fiscais da reavaliação

Os efeitos fiscais decorrentes da reavaliação devem ser registrados e divulgados conforme o CPC 32 – Tributos sobre o Lucro.


Redução ao valor recuperável de ativos – CPC 01

O CPC 01 trata da redução ao valor recuperável de ativos, também conhecido como impairment. De acordo com esta norma, um ativo é considerado desvalorizado quando seu valor contábil excede o valor recuperável, ou seja, o maior valor entre o valor justo líquido de despesas de venda e o valor em uso do ativo.


O teste de impairment é necessário quando há sinais de que um ativo pode ter perdido valor. Diversos fatores podem indicar essa necessidade, incluindo alterações significativas no mercado, deterioração física do ativo ou mudanças em seu uso ou operação. Esses indicadores alertam as empresas sobre a possibilidade de que o valor contábil do ativo possa não ser mais recuperável, tornando o teste de impairment uma prática essencial para manter a precisão das demonstrações financeiras.


Medição do valor recuperável

Para determinar o valor recuperável de um ativo, dois métodos são utilizados na avaliação. O primeiro é o valor justo líquido de despesas de venda, que representa o montante que seria obtido com a venda do ativo, descontados os custos associados à transação. Este método oferece uma perspectiva de mercado sobre o valor do ativo.


O segundo método é o valor em uso, que se baseia no valor presente dos fluxos de caixa futuros que o ativo gerará durante sua vida útil. Esta abordagem considera o potencial econômico do ativo dentro das operações da empresa e proporciona uma visão mais alinhada com a estratégia de longo prazo do negócio. Ambos os métodos são cruciais para uma avaliação precisa e completa do valor recuperável de um ativo.


Se o valor contábil do ativo for superior ao valor recuperável, a empresa deve reconhecer uma perda por desvalorização no resultado.


Afinal, qual a importância do CPC 27?

O CPC 27 estabelece diretrizes fundamentais para o tratamento contábil dos ativos imobilizados, abordando aspectos cruciais como reconhecimento inicial, mensuração subsequente, depreciação e reavaliação. Este pronunciamento técnico proporciona uma estrutura robusta para que as empresas representem de forma fidedigna o valor econômico de seus bens tangíveis de longa duração, contribuindo para a transparência e confiabilidade das demonstrações financeiras.


Ele assume uma importância singular, por fornecer uma base sólida para a mensuração e registro contábil de propriedades, sejam elas para uso próprio ou para investimento. As diretrizes sobre reavaliação e teste de impairment são importantes, pois permitem que o valor contábil dos imóveis reflita de maneira mais precisa sua realidade econômica. Isso não apenas melhora a qualidade da informação financeira, mas também auxilia os avaliadores de imóveis a compreender como as empresas registram e gerenciam seus ativos imobiliários, facilitando processos de due diligence, fusões e aquisições, e outras transações que envolvam a avaliação de propriedades corporativas.


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